
Eu observava um ponto fixo nos trilhos, sem realmente vê-los, enquanto processava com calma tudo o que estava acontecendo em minha vida naquele momento. Seria bastante ingenuo da minha parte, se um dia eu viesse a afirmar que nunca havia esperado ser demitido da Universidade para a qual eu vinha trabalhando há dois anos. O processo fora bastante lento para as minhas expectativas, mas desde a primeira vez que eu pusera meus pés naquele lugar, eu sabia que as coisas não terminariam bem...
-Você não vai a lugar nenhum, se ficar constantemente ao lado dos alunos dessa forma! Já é hora de você aprender que eles serão sempre um bando de mal-educados que nunca estarão satisfeitos e que fingem ser intelectuais e revolucionários.
- E você é o que? Me desculpe, mas eu não tenho a arrogância de pensar que sei muito mais que eles por estar alguns anos a frente. Acho que você não deve mais se lembrar como é estar do lado de lá. Já se passou muito, mas muito tempo não? - Eu juro que não queria ser desrespeitoso, apesar de achar que muitos anos a frente não era sinal de idolatria, mas ele havia me provocado. - Portanto, enquanto eu estiver aqui e eles estiverem lutando por uma coisa que é estritamente de seu direito, não vou mudar minha posição. - E sai da sala batendo a porta. Bem, depois disso, eles devem ter achado que aquilo fora a gota d'água, já que eu tinha dito coisas muito piores antes, e o conselho geral decidiu que eu deveria me desligar da Instituição. E juro para você que isso não estava me fazendo perder o sono durante a noite. Marco parecia perdê-lo por mim, pois ainda falava e eu só o ouvia ao longe. Não pude deixar de dar um sorriso, ainda perdido em pensamentos, pois apesar de tudo, fora muito divertido provocar aquele bando de velhos metidos a tradicionais e guardiães dos bons costumes.
Ao contrário do que ele pintava, os motivos da minha demissão não foramnada graves. Apenas a minha ideologia que não combinava com a instituição. Meu espirito e minha consciência eram livres demais para suportar certas coisas sem protestar.
Marco por outro lado ainda continuava a falar rapidamente, com uma ansiedade enorme, acerca do emprego que ele havia me arrumado. Ele costumava ser muito menos preocupado nos nossos tempos de faculdade e isso começou a flutuar pelos meus pensamentos, enquanto suas palavras pareciam apenas passar por mim, como se estivessem muito longe. E eu só sabia sobre o que ele estava falando, por já ter ouvido o seu discurso várias vezes.
Eu poderia repeti-lo palavra por palavra. E tinha quase certeza de que ele estava na parte em que dizia “Adam, você é um dos melhores profissionais na área, que eu conheço e acho que você poderia segurar as suas criticas, pelo bem de seu novo emprego e pela minha reputação. Você sabe como funciona essa coisa de indicação...” e prosseguia nessa linha. Eu não poderia culpá-lo por estar com tanto medo de que eu pudesse colocar tudo a perder mais uma vez, mas eu não estava realmente preocupado. Se não fosse por estar fazendo algo que eu amava, eu jamais me associaria a pessoas do tipo do meu novo... empregador.
-Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que supõe nossa vã filosofia...- A frase escapou dos meus lábios, não muito alto, mas o suficiente para que Marco pudesse ouvir e interromper o seu discurso.
-Como é que é, Adam?- Levantei a cabeça lentamente, desviando o olhar dos trilhos e sorrindo para ele com calma.
-Foi apenas uma citação que me veio a mente, talvez um pouco inapropriada para a nossa discussão atual... Ou talvez não... Consultei o relógio, enquanto Marco se recuperava para continuar com o seu discurso. Mas antes que ele pudesse realmente fazê-lo, continuei a falar. -Meu trem está para chegar. E por favor, fique calmo. Você já me viu levar essas coisas tão ao extremo assim? Não precisa responder... - Sorri para ele mais uma vez de forma irônica. - Eu prometo que não deixarei você em maus lençóis com o seu amigo. Todas as minhas ações são e sempre foram de minha total responsabilidade e eu nunca faço nada para prejudicar ninguém... E além do mais, é apenas um trabalho de tradução temporário, não é? Portanto, não se preocupe.- Dei um tapinha em suas costas, ouvindo o apito do trem em seguida. -Você só terá boas noticias minhas. - Completei, quando o trem parou a nossa frente, pegando minhas coisas e subindo no vagão.
Me encaminhei para o assento descrito no meu bilhete, constatando que havia uma moça no banco ao lado do meu. Tirei um livro de minha bolsa, colocando-a no compartimento reservado junto com as minhas outras coisas e sentei, voltando a me perder em meus pensamentos.
Eu realmente não estava dando a importância que todos pareciam atribuir ao fato de ter perdido o emprego em uma Universidade conceituada. Na qual, devo dizer, não gostava de trabalhar. Todos que me conheciam, sabiam que meu conceito de emprego ideal não era como o de todo mundo. Não era o nome, a tradição, o dinheiro, mas sim o que aquilo representava e quais seriam os frutos colhidos ao final de uma jornada.
Balancei a cabeça para afastar todos os meus pensamentos, acerca dos últimos acontecimentos, abrindo o livro na página marcada. Mas antes mesmo que eu pudesse fazê-lo, ouvi a moça ao meu lado falar. Ela não falara suficientemente alto para que eu pudesse ter captado qualquer palavra, mas mesmo assim, levantei a cabeça instintivamente, e mesmo que ela estivesse olhando pela janela, perguntei de forma um pouco patética:
-Me desculpe, você falou comigo?
________-Você não vai a lugar nenhum, se ficar constantemente ao lado dos alunos dessa forma! Já é hora de você aprender que eles serão sempre um bando de mal-educados que nunca estarão satisfeitos e que fingem ser intelectuais e revolucionários.
- E você é o que? Me desculpe, mas eu não tenho a arrogância de pensar que sei muito mais que eles por estar alguns anos a frente. Acho que você não deve mais se lembrar como é estar do lado de lá. Já se passou muito, mas muito tempo não? - Eu juro que não queria ser desrespeitoso, apesar de achar que muitos anos a frente não era sinal de idolatria, mas ele havia me provocado. - Portanto, enquanto eu estiver aqui e eles estiverem lutando por uma coisa que é estritamente de seu direito, não vou mudar minha posição. - E sai da sala batendo a porta. Bem, depois disso, eles devem ter achado que aquilo fora a gota d'água, já que eu tinha dito coisas muito piores antes, e o conselho geral decidiu que eu deveria me desligar da Instituição. E juro para você que isso não estava me fazendo perder o sono durante a noite. Marco parecia perdê-lo por mim, pois ainda falava e eu só o ouvia ao longe. Não pude deixar de dar um sorriso, ainda perdido em pensamentos, pois apesar de tudo, fora muito divertido provocar aquele bando de velhos metidos a tradicionais e guardiães dos bons costumes.
Ao contrário do que ele pintava, os motivos da minha demissão não foram
Marco por outro lado ainda continuava a falar rapidamente, com uma ansiedade enorme, acerca do emprego que ele havia me arrumado. Ele costumava ser muito menos preocupado nos nossos tempos de faculdade e isso começou a flutuar pelos meus pensamentos, enquanto suas palavras pareciam apenas passar por mim, como se estivessem muito longe. E eu só sabia sobre o que ele estava falando, por já ter ouvido o seu discurso várias vezes.
Eu poderia repeti-lo palavra por palavra. E tinha quase certeza de que ele estava na parte em que dizia “Adam, você é um dos melhores profissionais na área, que eu conheço e acho que você poderia segurar as suas criticas, pelo bem de seu novo emprego e pela minha reputação. Você sabe como funciona essa coisa de indicação...” e prosseguia nessa linha. Eu não poderia culpá-lo por estar com tanto medo de que eu pudesse colocar tudo a perder mais uma vez, mas eu não estava realmente preocupado. Se não fosse por estar fazendo algo que eu amava, eu jamais me associaria a pessoas do tipo do meu novo... empregador.
-Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que supõe nossa vã filosofia...- A frase escapou dos meus lábios, não muito alto, mas o suficiente para que Marco pudesse ouvir e interromper o seu discurso.
-Como é que é, Adam?- Levantei a cabeça lentamente, desviando o olhar dos trilhos e sorrindo para ele com calma.
-Foi apenas uma citação que me veio a mente, talvez um pouco inapropriada para a nossa discussão atual... Ou talvez não... Consultei o relógio, enquanto Marco se recuperava para continuar com o seu discurso. Mas antes que ele pudesse realmente fazê-lo, continuei a falar. -Meu trem está para chegar. E por favor, fique calmo. Você já me viu levar essas coisas tão ao extremo assim? Não precisa responder... - Sorri para ele mais uma vez de forma irônica. - Eu prometo que não deixarei você em maus lençóis com o seu amigo. Todas as minhas ações são e sempre foram de minha total responsabilidade e eu nunca faço nada para prejudicar ninguém... E além do mais, é apenas um trabalho de tradução temporário, não é? Portanto, não se preocupe.- Dei um tapinha em suas costas, ouvindo o apito do trem em seguida. -Você só terá boas noticias minhas. - Completei, quando o trem parou a nossa frente, pegando minhas coisas e subindo no vagão.
Me encaminhei para o assento descrito no meu bilhete, constatando que havia uma moça no banco ao lado do meu. Tirei um livro de minha bolsa, colocando-a no compartimento reservado junto com as minhas outras coisas e sentei, voltando a me perder em meus pensamentos.
Eu realmente não estava dando a importância que todos pareciam atribuir ao fato de ter perdido o emprego em uma Universidade conceituada. Na qual, devo dizer, não gostava de trabalhar. Todos que me conheciam, sabiam que meu conceito de emprego ideal não era como o de todo mundo. Não era o nome, a tradição, o dinheiro, mas sim o que aquilo representava e quais seriam os frutos colhidos ao final de uma jornada.
Balancei a cabeça para afastar todos os meus pensamentos, acerca dos últimos acontecimentos, abrindo o livro na página marcada. Mas antes mesmo que eu pudesse fazê-lo, ouvi a moça ao meu lado falar. Ela não falara suficientemente alto para que eu pudesse ter captado qualquer palavra, mas mesmo assim, levantei a cabeça instintivamente, e mesmo que ela estivesse olhando pela janela, perguntei de forma um pouco patética:
-Me desculpe, você falou comigo?
Sempre levamos tudo adiante! *cof*
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