Templates da Lua


as garotas


O que elas tem em comum? Poderia dizer que são de sagitário, mas é um pecado associar a palavra comum ao signo de sagitário, mesmo que seja para comparar coincidências. Inconstantes, independentes, autênticas, otimistas, divertidas, palhaças, difíceis de segurar. - Depende quem segura *cof* - São FOGO!

Juh

Faz História, é EXTREMAMENTE exagerada, fala muito alto, ri mais alto ainda, adora a língua espanhola [assim como as espécimes do sexo masculino que falam essa língua]. Acredita ter sonhos premonitórios [apenas os convenientes] e ama escrever.

Carollis

Faz Design Gráfico, apaixonada por fotografia, gatos [não só os animais - *cof* - Gosto compartilhado pela Juh também] ama ser taxada como inconstante, não consegue controlar seus comentários sarcásticos, além de ver 'duplo sentido' em tudo!


diversos




MEMORIES



sexta-feira, 16 de julho de 2010

When Words Blind You... - Post III

Eu não estava nada disposto, mas tinha que conseguir tirar Evanna e seus problemas da minha cabeça. Como tantas vezes eu repeti para mim mesmo que não entendia o porque daquilo tudo me preocupar tanto, e essa insistência me dera a resposta, eu teria que fazer a mesma coisa com relação a não pensar mais nela. Mas eu sabia que esse tipo de coisa não desaparecia com um mantra bem ensaiado e repetido muitas e muitas vezes. Eu havia achado os porquês, pois eles estavam lá, apesar de não enxergá-los no começo. E minha obstinação seria um empecilho enorme nessa empreitada. De uma coisa eu tinha certeza: por mais que eu tentasse, eu não conseguiria apagar tudo o que já havia acontecido e seguir em frente com facilidade. Não enquanto eu a visse da mesma maneira, sem uma mínima evolução. Mas isso não estava de acordo com tudo o que eu havia lhe escrito. O que só mostrava que a tarefa seria muito mais árdua. 

Esfreguei os olhos, soltando mais um suspiro frustrado e pensando que tentar me concentrar de novo em outras coisas poderia ajudar. Olhei mais uma vez para a tela do computador, esperando meus olhos se acostumarem de novo com a claridade e abri mais uma janela para escrever uma nova mensagem. Escrevi para Jimmy, contando de minha súbita falta de inspiração e criatividade, e lhe pedindo que me desse mais um pouco de prazo para lhe enviar a resenha. Enviei o e-mail, pensando mais uma vez que eu não poderia deixar me afetar daquela forma. Meu trabalho era tudo o que eu mais gostava na vida – tirando a situação extraordinária de que eu odiava um dos meus empregadores, mas o trabalho em si ainda se encaixava no quadro geral – e eu não poderia me desconcentrar daquela maneira. 

Minimizei a janela do e-mail, abrindo os textos que Jimmy havia me mandando, tencionando lê-los mais uma vez. Eu havia mandando o e-mail, sem esperança de que ela me respondesse, pois não havia me permitido criar expectativas. Eu só conseguia imaginar que ela não gostaria de me envolver ainda mais, por medo de que eu pudesse me intrometer ainda mais. Pensei mais uma vez em Maximilliam Matheson, e como sempre, uma raiva crescente se apossava de mim. Não era justo que ela tivesse que viver com uma pessoa como ele, mas também, se ela não se livrasse por si mesma, ninguém o faria.

Bufei, tentando fazer com que minha imaginação acerca do relacionamento dos dois, e consequentemente minha raiva por ser ele a ter qualquer ligação com ela, se dissipassem. Se eu quisesse tentar esquecer tudo isso, esse não era o melhor caminho. ”E existia melhor caminho nessa história? E se realmente existisse, porque eu não conseguia enxergá-lo? Como eu poderia buscá-lo?” Eu não queria acumular mais dúvidas. Não queria me perder também.

Pendi a cabeça para trás, olhando para o teto por alguns segundos, tentando não pensar em nada. Levantei a cabeça, começando a ler o texto, apenas com parte da minha atenção, por mais que eu soubesse do que se tratava. As palavras apenas passavam por meus olhos, não chegando a ser assimiladas, apesar de reconhecidas por meu cérebro. Eu estava muito mais hipnotizado pelas letras, do que concentrado, mas a sensação de estar fora do ar, pelo menos por alguns segundos, fora por demais reconfortante.

Me deixei ficar dessa maneira até o último parágrafo do texto, sendo acordado pelo alerta de um novo e-mail. Deveria ser a resposta de Jimmy, me passando uma prensa bem-humorada e provavelmente dizendo que eu já fui mais eficiente. Cliquei na janela para maximizá-la, me deparando com o inesperado remente de Evanna. Eu realmente não acreditava no que meus olhos viam e para ter certeza de que aquilo não era minha imaginação, cliquei na mensagem para lê-la.

A cada palavra meu coração se apertava ainda mais, pois era doloroso constatar que ela queria lutar sozinha. Uma vontade de segurá-la pelos ombros e chacolhá-la se apossou de mim mais uma vez, apesar de não estarmos cara a cara. Talvez ela tivesse razão e as coisas só poderiam se resolver dessa forma, mas por mais que eu quisesse dar espaço a ela, eu não me conformava.

Comecei a digitar uma resposta de forma febril, mas parei na metade dela, percebendo que estava me deixando cair no mesmo erro de antes. Ela me fazia perder a cabeça e quebrava todos as pequenas barreiras que eu tentava construir para não interferir mais. E como sempre, a minha mente entrava em conflito entre o certo e o errado, entre o me intrometer ou deixar estar. 

Respirei fundo, deixando que minhas ideias entrassem em ordem. Eu tinha que responder, mas com a mesma sensatez de antes...

”Evanna,

O fato de você me desculpar não tira o peso que ainda permanece em mim, por acreditar que eu poderia ter agido de forma diferente. Poderia ter me aproximado de você de uma outra maneira, mesmo que você afirme – e não tiro a sua razão aqui – que deva continuar e descobrir sozinha, a hora e a forma de mudar tudo isso. Eu havia imaginado que não era a primeira pessoa a tentar lhe alertar para uma vida mais feliz, mas eu juro que gostaria de ser a que te faria realmente despertar... E isso me frustra! Como me frustra...

Seus olhos também me mostram que há algo a ser despertado, e foi isso que me impeliu tanto a tentar, além daquele pedido mudo por ajuda que eu sempre mencionarei. Eu posso tentar lhe prometer várias coisas, tudo o que você me pedir, Evanna. Mas não me peça para entender. Eu ficarei ainda mais perturbado e inquieto, se tiver que entender as coisas da maneira como elas estão.

É claro que você não tem que se preocupar comigo, ninguém tem o direito de jogar mais um peso sobre suas costas por não se conformar com a sua situação. Já é um fardo bastante pesado para você. E como você mesma me disse, ninguém entende de fato o porque de tudo isso a não ser você. Eu só lhe peço uma única coisa – apesar de não ter direito nem a isso: que um dia você me faça entender o porque de tudo isso, quando você encontrar as respostas. Para que eu também possa tirar esse peso da minha alma, por não ter conseguido responder a súplica que vi em seus olhos e que estará sempre gravada em minha mente.

Adam.”



segunda-feira, 21 de junho de 2010

When Words Blind You... - Post II


Assim como, um dia, eu pude sentir a força que chegara a mim, exigente e ansiosa, do mesmo modo eu pude também sentí-la ir. Eu desejava poder me agarrar a ela, fazê-la se multiplicar, até que fosse de tamanha imensidão que levaria para longe todos os medos. Mas eu não consegui, me senti aos poucos voltar ao que era, resignada com uma vida que sentia veemente não querer pertencer. Eu não podia me culpar por recuar, me deixar abater, tão pouco poderia culpar qualquer outra pessoa. “Talvez esteja fadada a viver assim. Então, por mais que eu tente, por mais que veja as portas que deva abrir, eu não consigo ultrapassá-las, encontram-se fechadas, chaveadas. E as chaves que eu deveria achar, me foram escondidas. Perdi-as para sempre.”

Apoiei minha cabeça em uma das mãos, enquanto eu olhava para a tela do computador. Por noites seguidas eu ficava acordada, atormentada por uma insônia que ganhava mais força a cada noite. Era quase como pesadelos, mas com os olhos abertos. Eu podia ver tudo aquilo que me esperava, tudo aquilo que poderia ter sido, mas não foi. E o sentimento de impotência afastava o sono, deixando-me perdida com meus pensamentos. Então, nessas noites, eu me via grudada na tela do computador, como se pudesse tirar dali as respostas para a minha agonia.

Deixei-me cair de costas na cama, enquanto encarava o teto, mas sem o ver realmente. Meus pensamentos automaticamente se voltaram para Adam, como vinham fazendo desde que eu o conhecera naquele trem. Eu já havia concluído de que não me arrependera de nada do que dissera a ele naquele dia, ainda que tais palavras ditas como um desabafo, tenham se colocado entre nós de tal forma, que um não conseguia enxergar o mundo do outro. Minhas últimas palavras dirigidas à Adam haviam sido de exaustão, eu estava fatigada de tanto ter que explicar algo que nem eu sabia direito o porquê. Eu simplesmente não conseguia me ver em um mundo que não fosse o de Max, e o mais estranho, era que eu queria ver, queria sentir tudo aquilo que minha alma parecia ansiar, mas eu não conseguia.

Estava impotente, presa a um mundo ao qual eu não pertencia, e sem conseguir se ver longe dele, a não ser quando meus olhos se encontravam com os de Adam. Havia ali uma ligação, um reconhecimento, como se nossos olhos, ou o que havia por trás deles, se conhecessem a um tempo muito mais longo do que fôssemos capazes de compreender. E justamente por ter conhecimento disso, que eu o evitara. Compareci as aulas seguintes porque abandonar o curso seria infantil, e eu que não queria mais ser tratada como uma criança sem direito a escolha, não podia me permitir mais um julgamento do tipo. Mas eu sentia que já não estava mais tão ansiosa por aquilo como estivera no primeiro dia. De certa forma o encanto se perdera e me vi se retrair cada vez mais, ainda que involuntariamente.

Novamente presa dentro do casulo que eu mesma criei. Vivendo em um mundo próprio, alheia a todo o resto, exceto a minha dor e as lembranças insistentes do passado.” Me virei de lado, encarando a tela do computador que se encontrava sobre a cama, tentando ver além dele, como se eu pudesse tirar qualquer tipo de resposta dali, por simplesmente encará-lo por quanto tempo eu achasse necessário. Balancei a cabeça, como se espantasse qualquer tipo de pensamento para longe e levei minha mão para fechá-lo, quando um alerta de nova mensagem de e-mail aparece na tela.

Consultei a hora e vi que já era demasiado tarde para que fosse uma mensagem de Jeff, ou qualquer outra pessoa que poderia me mandar um e-mail, ainda que eu não lembrasse de qualquer outra que tivesse motivos para isso, então conclui que provavelmente algo havia passado pelo filtro de spam. “Certas respostas deveriam vir assim, como um alerta insistente, luminoso, que não lhe deixa desviar os olhos ou prestar atenção em qualquer outra coisa até que você realmente veja” Fechei os olhos, consumida mais uma vez por aquela dor devastadora de ver sua vida se esvaindo, e não ter forças para lutar por ela. Com um suspiro profundo, abri novamente os olhos e cliquei em cima do alerta, abrindo a mensagem.

O inesperado que vi me fez sentar na cama, lendo cada palavra e sentindo como se fossem-me ditas em voz alta. Eu quase podia ver Adam ali, a compreensão e a dúvida em seus olhos e todo aquele brilho de todas as emoções que ele sentia enquanto digitava cada palavra. Eu senti a mesma agitação interior que sentira semanas atrás se apossar novamente de mim enquanto lia a mensagem, mas não me iludi quanto a isso. Apenas deixei-a ali, inebriada pela sensação de força que ela me dava.

Fechei os olhos tentando encontrar palavras que formulassem uma resposta, mas não as encontrei de imediato. Eu apenas sentia aquele agito, aquela ânsia, mas eu tinha medo de me apegar a ela. Eu conhecia a dor do abandono, o que era sentir-se forte para logo depois sentir-se fraca, e assim eu também sabia que não queria que Adam se afastasse por completo. Eu não entendia o porquê, mas o simples fato de imaginar tal hipótese parecia machucar tanto quanto a força que me abandonara dias atrás.

Adam,

“Sinceramente, não lhe desculparei pelo simples fato de que não me deves desculpas. Nossos mundos estão separados por palavras que ambos não compreendemos, apenas sabemos ser verdadeiras. Não lhe culpo nem por um instante por ter tentado achar as respostas que nem eu mesma encontrei, mas eu simplesmente cansei da busca antes de você.

Não me entenda mal, por favor. Eu não me considero uma pessoa fraca, sei que existe uma força em mim que ninguém jamais imaginara, mas eu preciso crer em algo para poder ir atrás, ir a luta. Eu tenho procurado no que crer, no que me apegar fora desse mundo, mas eu não encontro. Não me vejo em outro lugar se não esse em que estou, mesmo sentindo, e sabendo querer, que não é aonde pertenço.

Você não é a primeira pessoa a tentar me despertar Adam, ainda que fora da forma menos gentil que a maioria, mas eu compreendo que é o seu jeito de se expressar, tão vivo em você como o brilho desses olhos que me fazem ter ânsia por acreditar em algo que possa me libertar. Ainda assim, essa é uma busca minha e todas as decisões que competem para realizá-la devem ser tomadas somente por mim.

Então, ao invés de lhe desculpar por algo que na verdade não é necessário, apenas lhe peço que entenda, ou tente entender: Eu não posso caminhar depressa por um caminho desconhecido em busca de algo que eu nem mesmo sei o que é. Preciso seguir meu próprio ritmo, ao meu próprio tempo.”

Evanna”

When Words Blind You... - Post I

Eu tentava escrever uma resenha que um amigo de Londres havia me solicitado, mas não conseguia sair do primeiro parágrafo. Todas os dilemas que vinham tomando minha mente nos últimos dias, pareciam estar ainda mais fortes. Deitei a cabeça para trás, esfregando os olhos, demonstrando um cansaço muito mais mental do que físico, tentando não pensar em nada, clarear minha mente. Um exercício que se mostrou impossível depois de alguns minutos. Me levantei da cadeira, impaciente com tudo aquilo, pois dificilmente alguma coisa tirava minha concentração desse jeito. Andei até a pequena porta de correr que dava para o jardim comum aos moradores de meu prédio, abrindo-a e me sentando no chão, com os braços apoiados nos joelhos. Olhei para o céu, não deixando de continuar a pensar na fonte da minha desconcentração, abaixando a cabeça em seguida, para continuar a ruminar ainda mais o assunto.


Eu nunca havia pensado no quanto toda essa situação poderia se tornar insuportável para mim. Pior do que saber que eu não poderia ajudá-la, era ter a certeza de que ela estava completamente magoada comigo. Eu percebera o quanto fora errado me deixar levar em meu próprio jogo, achar que a provocação seria a chave para fazê-la despertar por completo. Pode ter dado certo de início, talvez, mas não durara muito tempo. Por mais que eu tivesse prometido a mim mesmo que me seguraria, que respeitaria o espaço dela, a promessa se tornara cada vez mais impossível.

A forma como Evanna se afastara de mim, naquele primeiro dia de aula, me mostrara que eu havia perdido a chance de me redimir, de poder me aproximar mais uma vez, de uma forma mais suave, sem críticas, sem forçar a sua libertação. Me doía pensar que por mais que eu conhecesse tão a fundo as palavras, eu as usara de forma a afastá-la e não para trazê-la para mim. Eu abusara de minhas próprias convicções, querendo que ela as compartilhasse comigo, como se eu realmente tivesse todas as respostas. Como se eu realmente pudesse ter enxergado sua alma de forma completa, quando na verdade, ela me mostrara apenas parte dela. Eu sentia que havia uma conexão, uma ligação inexplicável, mas ainda não entendia o que havia no caminho completo. E eu sabia que acima de tudo queria entender. Queria decifrar os enigmas, quebrar os obstáculos, para que eu a conhecesse por inteiro.

E por muitos dias, desde a primeira vez em que eu a encontrara, aquilo fora um mistério. Eu não havia entendido qual era a urgência em tentar ajudá-la, em fazê-la ver a verdade, em libertá-la. Mas agora eu começara a perceber o porquê de tudo aquilo e não me agradava em nada. Eu não queria externar em palavras mais uma vez as minhas respostas, quando elas finalmente vieram até mim, como medo de que elas pudessem machucar mais uma vez. E por mais que tivesse sido tão difícil, que eu tivesse que chegar ao ponto de machucá-la, a promessa de respeitá-la e me segurar, até que fosse seguro agir de novo – ou mesmo esquecer tudo aquilo – agora era uma regra. Uma regra dolorosa e difícil, mas que tinha que ser seguida.

E assim eu agi pelas duas semanas que se seguiram a nossa primeira aula. Ao mesmo tempo em que ela parecia fugir de mim, eu me mantinha em meu lugar, procurando agir com um distanciamento seguro que um professor deveria ter para com um aluno. Por mais que ela não fosse qualquer aluna, não fosse qualquer pessoa, era o mais sensato a fazer. Eu evitava as perguntas diretas para qualquer um ali, como forma de não parecer que eu queria excluí-la, quando na verdade eu queria evitar me deixar entrar em qualquer confronto. E estava disposto a evitar qualquer convite de Matheson ou Taylor, que me fizesse encontrá-la fora da sala de aula.

Era bastante claro para mim que eu não conseguiria ficar alheio, por inteiro. Eu a observava em silêncio. Mas seu jeito reservado me impedia de lê-la de longe, de saber o que ocorria na sua vida naquele momento. Só que eu tinha a certeza de que se algo tivesse mudado ou estivesse mudando, eu perceberia. Eu sabia que sim. E me deixava mais agoniado perceber que as coisas continuavam do mesmo jeito. Não era isso o que eu queria e se tornava cada vez mais torturante me manter afastado e calado.

Cada partícula do meu pensamento havia sido invadida a cada dia que se passava, enquanto um sentimento de impotência acompanhava essa jornada. Será que aquilo teria fim? Eu teria paz e conseguiria deixá-la seguir o seu caminho sem pensar no que aconteceria com ela dali para a frente? Essa era a coisa mais sensata a se fazer, esquecer tudo isso, cortar o mal antes que ele se enraizasse mais. Era nisso que eu deveria me concentrar.

Mas eu não poderia simplesmente tentar sair da vida dela assim. Eu tinha que me explicar, mostrar que a minha intenção era boa. Eu tinha que me desculpar... Por mais que isso também exigisse uma aproximação, o que era perigoso, mas eu tinha que ter a chance de me redimir. Não poderia ser tão difícil como parecera desde então.

Respirei fundo, levantando a cabeça e pensando que eu deveria avisar Jimmy que eu demoraria um pouco mais para entregar a sua resenha. Levantei de um salto, como se aquele movimento súbito pudesse me distrair, mas é claro que não seria tão fácil assim.

Me sentei em frente ao meu computador mais uma vez, abrindo uma janela para digitar uma nova mensagem, quando uma ideia pulou em minha mente. Eu tinha o e-mail dela e sabia que se eu medisse, escrevesse, lesse e relesse as palavras, não seria difícil me segurar e eu conseguiria me desculpar, sem causar mais danos.

Estralei os dedos, com uma pontada de expectativa dominando meu corpo. Mas nada tão intenso que pudesse mobilizar qualquer outro sentimento. Olhei para a tela em branco por alguns segundos e deixei as palavras me dominarem mais uma vez. Elas fluíam de forma fácil, como se todo o tempo fossem elas que quisessem sair de mim. Parei algumas vezes, retomei alguns pontos, tentando ser o mais razoável e gentil possível. Quando terminei, reli cada palavra com atenção:


”Evanna,

São tantas as palavras que poderiam expressar o quanto eu me arrependo de não ter respeitado o seu pedido e me afastado ainda na noite em que te vi pela segunda vez... Mas ao mesmo tempo, eu sei que apenas um pedido de desculpas não basta. Desculpar-se nunca é suficiente, quando o dano já foi infringido. É um ato, ainda que em parte, hipócrita já que ninguém faz qualquer coisa a outra pessoa sem uma razão. E ninguém, antes de qualquer ação, pensa que o resultado dela precisará de desculpas, pois se assim pensasse, não o faria. Portanto, não existe razão em me desculpar com você sem tentar lhe explicar o que me levou a me meter em sua vida, em primeiro lugar. E talvez eu nem seja digno de que você aceite minhas desculpas.

Desde o seu desabafo aquele dia no trem, uma sensação estranha tomou conta de mim. Eu não sei se foi a conexão que encontrei em seus olhos ou se o pedido mudo por ajuda que eu vi neles, apesar de saber que você não queria, mas algo me ligou a você, á sua causa, aos seus problemas, de maneira inexplicável.

É da minha natureza não aceitar que as pessoas não sejam livres. É da minha natureza também, criticar, ir a luta por mudanças. Meu espírito se inquieta, minha mente trabalha dobrado, meus sentidos ficam tomados por uma cegueira sem fim, até que eu atinja o meu objetivo.

E o meu objetivo dessa vez, pelo menos quando parte de minhas dúvidas foram resolvidas, era lhe mostrar que não há sentido em viver uma vida dessas quando você parecia não querer estar nela. Mas olha eu aqui julgando outra vez, mesmo que seja no passado... Eu não sou digno de lhe mostrar o que é preciso fazer para que sua vida mude e muito menos posso me deixar entender que é isso o que você quer. Eu não conheço todos os seus dilemas, não estou a par de tudo o que lhe impele a continuar tudo isso, por mais que pareça lhe machucar. Portanto, não tenho o direto de lhe julgar.

Não serei mais um que te diz o que fazer, não serei mais um que desrespeita as suas vontades, não serei mais um que poderá te machucar...

Adam.


Enviei a mensagem, sem a esperança de que ela me respondesse e muito menos com a certeza de que eu conseguiria tirar todo aquele peso das minhas costas.




quarta-feira, 28 de abril de 2010

Same Mistake - Post X


Por mais que minhas palavras possuíssem um duplo significado, ainda assim eu sentia que não queria ajuda, não daquele jeito. Mesmo que toda minha força parecia se esvair, eu sabia que teria que me encontrar em mim mesma. “Não quero respostas prontas, palavras específicas, um enredo pra seguir. Quero simplesmente descobrir tudo aos poucos, conhecer cada detalhe, encontrar o que tanto procurava por minha própria vontade, em meu próprio tempo.”

“Eu entendia a urgência de Fábia por viver, por arriscar todo o tempo, por que, de certo modo, aquilo era tudo que lhe restava. Não havia um futuro incerto, por mais cruel que possa parecer, mas na verdade: não havia futuro. Para ela só havia presente, e ela agarrava o presente com todas as suas forças, vivendo tudo o que tinha vontade de viver. Muitos dizem que é o melhor jeito de se viver, não pensando no amanhã. Mas será mesmo?”

“Ninguém pode ser totalmente livre. Como poderiam? Viver, viver e apenas viver, sem pensar nas conseqüências que seus atos poderão trazer amanhã? Ser livre é inebriante, mas saber ver e respeitar os limites é o que os tornam realmente merecedores de tal liberdade. Fábia não tinha mais pelo que viver além de si mesma, era lhe permitido ser egoísta, por que a vida também havia sido egoísta com ela.”

Mas eu simplesmente não conseguiria viver de tal modo, talvez por ser fraca, ou simplesmente por não me encaixar em um mundo onde nada é certo. Justamente por meus limites terem sido ultrapassados várias vezes seguidas, por todos eles, os livres, justamente por isso era que eu me apegava mais a eles. Eu me limitava, limitava minhas escolhas, pensando nas conseqüências que elas trariam, não a mim, mas para os outros, para os que estavam envolvidos.

“Fábia costumava revidar que eles, os em que eu tanto pensava antes de tomar uma decisão, jamais fariam o mesmo por mim. “Eles escolherão o melhor para si mesmos, Evie. Quando uma verdadeira oportunidade chegar até eles, ou até você, nenhum pensará duas vezes. Escolherão por si só o que mais lhes convém. Espero que chegue a você primeiro, minha irmã. E que você faça a escolha certa, sem olhar para trás.” Eu rebatia que aquele egoísmo não estava em mim, simplesmente não fazia parte do que eu era, e Fábia completava que não egoísmo, era questão de se conhecer e saber que poderá fazer melhor se estiver bem consigo mesma. “Nenhuma alma triste poderá salvar o mundo, Evie. Quem vive preso dentro de si mesmo não vê o que existe lá fora.”

Eu observava Adam limpar minhas coisas, ignorando totalmente minha resistência a ajuda, e soube que ele faria o mesmo com todo o resto. “A questão é que ele está escolhendo por mim, mas eu não pedi. Ele apenas está fazendo o que lhe convém, sem pensar que essa escolha deveria ser minha.” Eu ia pedir que deixasse minhas coisas ali mais uma vez, mas qualquer menção de falar foi cortada pelo som do meu celular tocando.

Peguei-o vendo que a chamada era do escritório de Max, lancei um olhar para Adam, mas não sai do lugar, atendendo ali mesmo. – Sim.Sra. Matheson? Aqui é Samantha, a secretária do Sr. Matheson. Ele pediu para avisá-la que não poderá jantar em casa hoje, e que provavelmente chegará tarde. Tudo bem..Ele pediu para perguntar se a senhora ficaria bem, e qualquer coisa a... – Sim. Sim. Diga a ele que ficarei bem. – Fechei o celular, colocando-o dentro da bolsa.

Encarei Adam conforme suas palavras foram ditas e me senti cansada. Eu não queria mais uma batalha, não queria provar quem era o mais forte ou quem tinha razão. “E se eu não ficar bem, Adam, o que lhe importa? Me responda: Por que te importa tanto? Não deve importar, simplesmente não deve. Essa verdade só a mim pertence, esse direito de escolha é meu, e estou cansada de tentar convencer todos disso.” – Respirei fundo, guardando dentro da bolsa as últimas coisas que ainda haviam em cima da mesa. – Você não entende, Adam. E eu estou cansada de tentar explicar.

Eu quase podia sentir as lágrimas surgindo. Não eram de tristeza, eram de cansaço. Eu estava esgotada daquilo tudo, queria apenas poder viver em paz, queria o meu tipo de liberdade, sem críticas ou modos certos de se viver. Pisei fora da sala pensando em como as coisas poderiam ser fáceis, se todos insistiam em torná-las cada vez mais difíceis para mim.

Same Mistake FINALIZADO!





sexta-feira, 23 de abril de 2010

Same Mistake - Post IX

Abri os olhos rapidamente, não me permitindo ficar em um estado muito introspectivo, enquanto os alunos saiam. Ouvia apenas com parte da minha atenção os seus comentários acerca da aula e mais uma vez não pude deixar de procurar por Evanna na sala, que ainda estava juntando suas coisas. Comecei a juntar as minhas, rapidamente, considerado se deveria ir falar com ela ou não. Se pediria desculpas por ter me comportado daquela maneira mais uma vez. Levantei a cabeça novamente, deixando minhas coisas de lado, mas percebendo que a sala estava completamente vazia, exceto por ela. Era estranho o fato dela ainda estar ali, quando sua atitude mais previsível seria fugir de mim o mais rápido possível. Olhei mais atentamente, percebendo que ela estava com algum problema e me levantei imediatamente para checar.

Ao chegar perto dela, notei que ela lutava contra uma caneta que havia estourado em seu estojo e que agora sujara todos os seus materiais. Encarei aquele acidente como um sinal para poder me desculpar, dizer qualquer coisa que mostrasse mais uma vez que minha intenção não era magoá-la. Me aproximei em silêncio, pegando o seu pulso levemente e tirando a caneta de suas mãos. O que a despertou, fazendo-a me encarar mais uma vez daquela forma suplicante, mesmo que não fosse essa a sua intenção. Uma conexão inexplicável que sempre ocorria quando nos olhávamos dessa forma. Eu sabia que meus olhos passavam de forma transparente as minhas dúvidas e agora esperava que ele demonstrasse o quanto eu estava arrependido de ter falado mais uma vez daquele jeito.

Eu queria poder dizer alguma coisa, mas eu tinha medo de não conseguir ser gentil como eu deveria ser, pois a mesma indignação acerca de sua situação, que me tomava todas as vezes, poderia retornar. Ouvi sua voz baixa, me dizer um não, negando a minha ajuda. Havia um duplo significado em suas palavras, como tudo o que dissemos um ao outro aquele dia. Eu sabia que ela precisava de ajuda, por mais que não quisesse. E continuar negando o que ela precisava, não era o melhor caminho a ser tomado. Abri a boca para respondê-la, mas me contive no mesmo instante, me segurando para não começar tudo de novo. Balancei a cabeça, completamente frustrado, desviando meu olhar do seu. Eu deveria evitá-lo, para que eu não me indignasse ainda mais. Para que eu não visse mais aquele pedido mudo por ajuda e não pudesse fazer nada.

Tirei um pedaço de papel do bolso, limpando a caneta e colocando-a sobre a mesa, evitando assim que sujasse mais ainda as coisas. Com o mesmo papel, tentei limpar os outros objetos que haviam dentro de seu estojo e tudo o que a caneta havia sujado, enquanto ainda me segurava para não lhe dizer nada. Seria mais fácil evitar, até que as palavras certas surgissem. Mas quais seriam as palavras certas? Palavras de conforto, que só mascarariam a sua situação? Que amorteceriam a sua dor, como uma droga forte age em nosso corpo, mas que não a curaria, quando passasse o efeito? Não, não era da minha índole dizer coisas falsas e gentis, somente por dizer. Não, quando a realidade era tão cruel e deveria ser vista como ela realmente se apresentava, nos dando animo para lutar contra ela. Não que eu não fosse capaz de dizer coisas boas, muito pelo contrário, mas não era a favor de suavizar a situação se não fosse resolver.

Fui desperto de meus devaneios, enquanto ainda limpava as suas coisas, quando o seu telefone tocou. Tentei ao máximo me manter alheio a sua conversa, evitando imaginar que pudesse ser o seu marido quem estava ligando, talvez perguntando como andava a sua aula inútil. Me mantive todo esse tempo sem olhar para ela uma outra vez e por mais que eu quisesse evitar ouvir a sua conversa, não pude deixar de escutar a sua última frase, dizendo que ficaria bem, antes de desligar o telefone.

Mais uma vez aquela sensação de indignação, misturada a impotência que se seguia tomaram conta de mim. Como ela conseguia continuar negando tudo o que estava acontecendo ao seu redor, se anulando de maneira tão ruim, tão auto-depreciativa? Como eu conseguiria evitar me intrometer, quando ela continuava me mostrando o quanto aquilo a fazia mal? Era demais para mim e eu me segurei ao máximo, tentando não dizer mais nada, mas não foi possível...

-Enquanto você não parar de dizer isso, Evanna, você nunca ficará bem...- Falei, tentando ser o mais sintético possível, enquanto voltava a encará-la. Por mais que eu quisesse, por mais que eu tentasse, era difícil demais presenciar tudo aquilo calado... 



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Same Mistake - Post VIII


Voltei a olhar para a turma, enquanto eles debatiam a vida do ‘autor’, mas eu novamente não estava prestando atenção. “Que liberdade é essa que tanto falam, se suas próprias palavras são de censura? Cada um deve conquistar sua liberdade ao seu tempo, não se pode obrigar que todos sigam as mesmas regras. O jogo não é o mesmo para todos. Talvez o pior de tudo, é que todos eles, Fábia, Jeff e agora Adam, todos eles tem uma opinião sobre mim que não é verdadeira. Quem disse que eu também não quero tentar? Ou ser livre? Mas como, como poderia simplesmente jogar tudo para o alto, jogar tudo o que eu fui até agora para o alto?”

“Eu deveria simplesmente ir para casa agora e avisar Max que quero o divórcio, assim simples? E quem eu teria, então? Para quem eu voltaria todos os dias? Ainda que seja um mundo ao qual eu não pertenço, um mundo cheio de regras e bons modos, ainda assim, foi esse mundo que me recebeu de braços abertos quando casei com Max. Eu fui acolhida, me colocaram dentro dele, como parte dele, sem me questionar nenhuma vez os motivos. Provavelmente nenhum tinha emoção o suficiente para se contrapor, mas mesmo se tivesse: foram educados para não ir além do limite que lhes é permitido.”

“E este outro mundo, onde não há regras, apenas emoção. Viva. Viva, eles dizem, apenas se arrisque, se jogue. Eles têm pressa, têm uma ânsia incontrolável de sentir, e querem que todos façam o mesmo. Não se importam com o limite de cada um, transpõem as barreiras que lhe são impostas sem pestanejar, julgando os que não consideram capazes.”

Eu rabiscava coisas sem nexo na folha em branco a minha frente, quando percebo o agito da turma, murmurando como a aula havia passado rapidamente. Um leve suspiro escapou de meus lábios, enquanto eu erguia os olhos e percebia que Adam escrevera seu e-mail no quadro, pedindo que todos lhe mandassem o seu. Copiei rapidamente em meio aos rabiscos na folha de papel, e comecei a organizar minhas coisas, enquanto eu percebia que a maioria já se levantava para sair.

Me levantei também, guardando as últimas coisas, tentando me apressar para que não fosse a última a sair “É tudo que eu menos quero agora. Ficar sozinha dentro de uma sala de aula com Adam.” quando percebo meus dedos manchados de tinta azul. Respirei fundo ao ver a caneta que havia estourado dentro do meu estojo “Ótimo! Era absolutamente tudo que me faltava.” que além dos meus dedos, havia sujado todas as outras coisas que havia dentro dele.

Comecei a tirar as coisas de dentro do estojo, com a intenção de limpar o máximo possível, quando vejo a última aluna sair porta afora. “Talvez eu deva começar a acreditar em sinais. Talvez toda essa agitação que sinto dentro de mim não seja realmente de expectativa, e sim de temor, de medo do desconhecido. E eu simplesmente não estou conseguindo entender como as outras tantas coisas que eu não entendo.”

Sou desperta dos meus pensamentos com as mãos de Adam tirando as canetas das minhas e levanto o olhar para encará-lo. Havia ali, naquele encontro de olhares, uma ligação inexplicável e novamente me veio a sensação que eu havia sentido no trem ‘a de que ele queria entender’. “Mas não entende. Como poderia? Se seus ideais estão moldados de tal forma que não lhe deixam ver direito. Talvez todo esse brilho nos seus olhos, Adam, esse mesmo brilho que faz eu querer me perder e me encontrar dentro deles incansáveis vezes, esteja te cegando. Da mesma forma que eu não consigo entender, não consigo ver esse mundo que você parece querer me fazer viver, você não consegue ver o meu”.

- Não – Balancei levemente a cabeça – Eu não preciso de ajuda. – Eu não sabia se estava dizendo aquelas palavras apenas pelo desastre no estojo ou por todo o resto na minha vida. Tudo parecia se fundir de tal forma, que novamente eu me sentia sufocada, anestesiada por tanta incompreensão.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Same Mistake - Post VII


Eu pude perceber que enquanto eu falava, Evanna começara a se aborrecer de novo, parecendo magoada que a conversa pudesse ter chegado aquele ponto mais uma vez. E uma sensação de impotência, de mostrar que na verdade minha intenção não era magoá-la, começou a tomar conta de mim. Eu ficara feliz com a sua provocação e entrara no jogo, mas eu sabia que não tivera tato o suficiente para pensar que por mais que estivesse tentando, ela ainda não estava preparada para receber mais e mais críticas, mais investidas contra o seu modo de vida atual. Ela precisava de tempo para se acostumar a ser livre e isso também era difícil. 


Respirei fundo, porém baixo, ao ouvir a sua resposta e o seu dar de ombros em seguida, como quem diz que não quer mais tomar parte naquela discussão. Eu não queria continuar a magoá-la, mas eu teria que responder e eu esperava que mesmo que eu já a tivesse machucado, que aquilo pudesse ajudá-la. Me virei para a sala, pretendendo não dirigir mais as palavras a ela, apesar de saber que isso não seria mais possível.


-Não... não é nada fácil, muito menos simples. Mas eles tentaram e se não fosse a sua persistência e a sua vontade de revolucionar o mundo, muitas das grande obras que estudamos hoje, não existiriam...- Voltei para o meio da sala, parando de frente para a turma mais uma vez.- Foi isso que eu quis dizer aqui desde o começo e repito mais uma vez, que o que vale é tentar. Que não se pode sucumbir as dificuldades que se colocam no nosso caminho. Sempre haverão obstáculos, sempre haverá a opinião alheia, que por muitas vezes será nociva, destrutiva...- Terminei meu raciocínio acerca desse tópico, deixando que os alunos entrassem na questão novamente.


Eu já não sabia mais se ela estava participando da aula como antes. Arrisquei olhar algumas vezes para ela, para perceber com muita tristeza, que Evanna já não estava com aquele ar mais leve de quando ela entrara na sala. Enquanto eu continuava o debate com a sala, me censurava internamente por ter me deixado levar naquela conversa e talvez ter sido o responsável por estragar o seu dia.

Não era isso o que eu queria. Eu não poderia ser mais um que trouxesse a infelicidade para a sua vida por não compreender o que ela precisava realmente. Como eu mesmo havia me dito muitas vezes, meu senso crítico era por demais aflorado e talvez a única ferramenta de que eu dispunha para fazê-la se enxergar, tentar se achar. Eu sabia que não era a melhor maneira e ainda tinha a certeza de que talvez não conseguisse mais oportunidades de tentar, ainda que isso pudesse me matar por dentro.

Mas o que eu poderia fazer? Eu conseguiria passar mais noites e noites acordado, tentando encontrar as respostas? Eu deveria usar aquela proximidade que o curso me daria, para arriscar uma outra tentativa? Eu não sabia, como tantas outras coisas ainda me eram obscuras e não conseguiria raciocinar direito, não ali, com a maior parte da mente na aula.

Deixei que alguns alunos discutissem mais um pouco entre eles, apenas observando, enquanto tentava m concentrar apenas na sala de aula. Interrompi mais uma vez, defendendo alguns pontos de vista e esclarecendo algumas questões, olhando no relógio e constatando que faltavam cinco minutos para acabar a aula.


- Bom, nós ainda teremos boas oportunidades de discussão. - Falei, com um leve sorriso nos lábios, ainda que estivesse mentalmente cansado pela luta que se travava em meus pensamentos. Me encaminhei para a mesa, pegando a caneta e andando até o quadro. -Esse é o meu e-mail. Peço a todos que me mandem uma mensagem com o nome completo, para que eu possa ter o e-mail de vocês. Estarei enviado alguns materiais para leitura e qualquer dúvida, vocês podem me contactar. Peço ainda que leiam o livro para a próxima aula, que assim a discussão ficará bem mais fácil. Até a próxima aula.- Arrisquei mais um olhar para Evanna e me sentei na cadeira pela primeira vez aquele dia, passando as mãos no rosto, como um gesto de cansaço, enquanto todos saiam.




terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Same Mistake - Post VI


Observei um sorriso divertido surgir no rosto de Adam, e um breve pensamento de que eu não o havia visto sorrir desde que o conhecera passou por mim “Esteve ocupado demais me julgando.” Continuei sustentando seu olhar enquanto ele caminhava e vinha para mais perto de mim. Eu podia ver claramente o brilho de desafio naqueles olhos, a satisfação por ter alcançado algo. “Ainda que seja me irritar mais.”

Soltei o ar vagarosamente, sabendo que Adam não deixaria o assunto morrer ali. “É como se ele não conseguisse viver, seguir adiante, sem ter que me lembrar daquelas palavras. Sem me deixar em paz.” Não pude deixar que uma pontada de mágoa surgisse em mim, conforme ele ia falando. “Deveria ser fácil assim, fazer escolhas. Apenas fazer, não pensar nas responsabilidades, nas conseqüências, no que está se deixando para trás. Por que é tão difícil de entender?

"Por que querem sempre me dizer o que fazer? Que diferença fará, então? Se o mundo de Max e o mundo das pessoas que querem me ‘ajudar’, como dizem, é o mesmo? Todos querem apenas me dizer o que fazer. Por que eu tenho que seguir as regras deles? Quero seguir as minhas, o meu tempo. Eu não quero esse tipo de ‘ajuda’, camuflada por críticas de pessoas que se dizem mais fortes e mais corajosas que eu. Nenhuma delas passou o que eu passei, esteve na mesma situação para poder falar comigo de igual para igual. Repito uma, duas, três vezes e vou repetir incansavelmente: Elas não sabem de nada.”

Encarei o olhar de Adam, enquanto eu podia sentir aquela energia dentro de mim. Havia algo ali que queria vida, queria luta. Havia uma ânsia de vencer, de lutar por uma causa. Balancei levemente a cabeça – Seria bom se fosse fácil assim, não seria? Mas acredito que nem todos tiveram a chance de escolher, não foram tão livres. - Eu não podia controlar o tom de defesa que havia na minha voz. Era minha vida que estava sendo debatida, não a de um autor qualquer em um passado remoto. Escutei a resposta de Adam e uma pontada maior de mágoa surgiu em mim, mas eu fiz questão de afugentá-la não me permitindo nenhuma vez se quer desviar meus olhos dos dele.

Não concordo que seja tão simples. Não basta só querer se libertar, ser livre, o indivíduo tem que levar em consideração muito mais coisas, como eu já disse: Não é tão fácil quanto parece. - Dei de ombros, desviando o olhar para a folha de anotações em branco a minha frente. “Queria ser como essa folha em branco, pronta para ser rabiscada, sentindo aquele êxtase pela expectativa do novo.” Fechei os olhos, sentindo toda a minha força se ir aos poucos, como se soubesse que não valeria de nada lutar aquela batalha . “Mas o que sou? O que há escrito nas páginas da minha vida? Só vejo manchas, borrões. Nada para ser lido, nada que vale a pena ser lido... Quero linhas, palavras, emoções, parágrafos inteiro de emoções."

"E como, como posso simplesmente me deixar escrever, escrever incontrolavelmente se nem em todas as palavras, nas cenas escritas poderei passar uma borracha depois? Como ter certeza do que é o certo, do que é o melhor? Como podem ter tanta certeza que a história que querem tanto escrever para mim é melhor que a que já tenho escrito? Não vejo, não vejo grandes finais em nenhuma delas. E é isso que me assusta."


sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Same Mistake - Post V

Eu havia feito a pergunta para Evanna, de forma a provocá-la. Era irresistível, ainda mais quando eu tinha desculpas para mascará-las e sabia que ela não mandaria eu parar de me meter em sua vida. Afinal, além de nós ali, ninguém entenderia o real sentido de nossas palavras. E além do mais, eu adoraria ver qual seria a sua reação longe de seu marido, de seu círculo social, ou mesmo do habitat natural de todos eles. Eu sabia que aquilo tudo a sufocava, por mais que ela quisesse mentir para mim, dizendo que eu estava errado. E sabia que não era dono da razão, mas por algum motivo eu não precisara de muito para saber que tudo o que a rodeava lhe fazia mal.

Não fora só as palavras que ela havia me dito, tanto no trem como no jantar. É claro que aquilo me chamara a atenção, mais do que eu pretendia que chamasse. Mas eu simplesmente saberia mesmo assim. E enquanto eu falava, há alguns minutos atrás e a olhava de vez em quando, eu poderia sentir que ela estava ligeiramente diferente, um pouco mais viva e livre, só por ter saído daquela atmosfera. Fiquei tentando imaginar o que Maximilliam Matheson estava achando de sua mulher perder tempo e dinheiro em um curso que para ele deveria ser sem sentido. O que na verdade era surpreendente, já que ele estava no mercado editorial. Mas ainda assim, não era esse tipo de coisa que o atraía naquilo e eu sabia bem. E eu adoraria ter a oportunidade de perguntar o que ele achara. Não que eu realmente fosse ter essa oportunidade. Não tinha tantas esperanças assim.

E vê-la abrir um sorriso, um sorriso realmente sincero, divertido e porque não, um pouco irônico com a minha pergunta, fez com que algo começasse a despertar dentro de mim. Um sentimento de alegria e satisfação, por ver e saber que eu não estava totalmente errado. Que havia vida ali e que ela só precisava ser acordada. Continuei a olhar para ela, de braços cruzados, esperando a sua resposta. Eu sabia que ela usaria aquilo da mesma forma que eu usara. E esperava que ela fizesse isso e Evanna não me decepcionou. Um sorriso de lado foi se abrindo a medida em que ela falava e o tom de desafio, de certeza que ela usava para me responder me deixava mais satisfeito.

Era uma resposta lógica, correta e sucinta, mas todo o significado por baixo dela tinha a ver completamente com a sua vida. Enfiei uma das mãos nos bolsos da calça, andando vagarosamente até o lado da sala em que ela estava, colocando uma mão na nuca, como se estivesse a refletir. – Isso é a mais completa verdade, mas é fato que todo bom artista ou pelo menos a maioria, foi julgados em seu tempo. A sua obra está sempre a frente da sociedade na qual ele está inserido, muitas vezes criando um choque momentâneo sobre tudo o que as pessoas acreditam ou conhecem. Faz parte da alma e da vida do artista ser julgado...-Falei a última frase me voltando para sala, antes de olhá-la mais uma vez. -... e nem por isso, ele deixou de criar. Nem por isso ele deixou de fazer as escolhas que o fez feliz. Pelo menos na maioria das vezes...

Terminei, encarando-a por alguns segundos. Eu sabia que aquilo a provocaria ainda mais, que a faria continuar a debater comigo, enquanto eu a tentasse. E não demorou, ela me respondeu, ainda com o sarcasmo de antes, mas agora com uma espécie de defesa de sua causa, que não era tão fácil. Que nem todos tiveram a chance de escolher, nem foram livres para isso.

-Mas o conceito de liberdade, nesse contexto, começa de dentro para fora do indivíduo. Não quando você ultrapassa os limites dos outros, mas quando você percebe que precisa se libertar, entender suas escolhas e desejos, para que seja possível pesar o seu papel naquela sociedade e dar a sua contribuição, mudá-la com as suas ferramentas.

Eu não acreditava que apenas uma pessoa poderia mudar tudo, mas as suas escolhas e o conhecimento de si mesmo, poderiam influenciar o coletivo, fazendo com que a possibilidade de mudanças não passasse de uma fantasia.



quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Same Mistake - Post IV


Lancei um vago olhar por entre meus colegas e escolhi um lugar que não ficava perto demais de Adam, o que na verdade era ilusão, já que estávamos trancados dentro de uma sala de aula, para me sentar. Respirei fundo e tentei me concentrar no que eu viera fazer ali, e no quanto eu havia lutado para simplesmente poder estar ali.

E eu que imaginara que respiraria ar puro. Que estaria livre de qualquer crítica, que longe dos olhos de Max eu podia simplesmente ser eu mesma, que este tempo passado aqui na Universidade seria de liberdade...”

Eu encarava Adam, enquanto ele falava, mas eu não estava mesmo escutando. Como aluna era meu dever prestar atenção no professor, e eu me senti agradecida por observá-lo, analisando seu modo de falar e de se expressar, sem realmente chamar sua atenção, ou de qualquer outra pessoa presente. “Fala como se tivesse o mundo nas mãos, com tanta certeza sobre o que diz que...” Soltei o ar lentamente dos meus pulmões e tentei me concentrar apenas na aula. De que valeria estar ali se eu não aprendesse nada, afinal?

A folha que serviria como chamada chegou até mim, e fiquei encarando-a alguns segundos antes de assiná-la. Eu não podia me envergonhar de carregar o sobrenome Matheson, por mais que o professor o julgasse, juntamente com todos os ‘costumes’ que ele carregava.

“Talvez se eu acreditasse em sinais, eu poderia dizer que isto é um aviso, que não importa aonde eu vá, sempre terá alguém para me julgar, para se impor. Mas não acredito em sinais, não com todo esse agito dentro de mim, simplesmente não posso me deixar esmaecer, não posso deixar esmaecer o brilho nos olhos de quem tem ânsia por viver. Não quero deixar.

Meus olhos se encontraram com os de Adam brevemente, o necessário para que eu visse aquele brilho que me fazia querer se perder dentro deles toda vez. “Não quero me perder, não em olhos, brilho, palavras, escuridão ou em mim mesma. Quero me encontrar, apenas me encontrar.”

Sorri para a garota que me entregava a ‘matriz curricular’ e repassei com o mesmo sorriso para um cara que se encontrava atrás de mim, voltando a prestar atenção em Adam. A firmeza com que falava de cada autor, sua convicção em dizer cada palavra me fez voltar para aquela noite no terraço, enquanto ele criticava a minha vida.

Deve estar acostumado a fazer isso, obviamente. Tão fácil dizer como os outros deveriam viver, dizer onde estão errando ou erraram. Sim, tão fácil dizer. Mas estar no lugar de quem é criticado é diferente, não adianta imaginar como seria, tentar se pôr no lugar, por que é diferente. Eu mesma havia repetido incansáveis vezes que seria diferente de minha mãe, e olha o que estou fazendo? Eu também achava fácil, tão fácil que me iludi. A verdade é sempre mais difícil, a realidade machuca sempre mais.”

Novamente meu olhar se cruzou com o dele, e havia algo neles que me fez prestar atenção no que ele falava, como se houvesse naqueles olhos um aviso, ele falava para mim. “Temos apenas a sensação de que somos totalmente livres” Eu repeti para mim mesma, enquanto ele completava seu raciocínio e falava o que queria de nós.

Escutei Giovanna, a garota sentada a minha frente, dar sua opinião e instintivamente prendi a respiração, soltando-a em seguida quando ele apontou para outra garota, aleatoriamente. Eu analisava cada opinião, pensando em qual seria realmente a minha, quando escuto meu nome e levanto os olhos, encarando-o. Eu podia notar o tom da pergunta, a critica camuflada que havia por trás dela, e isso me fez sorrir, um sorriso sincero, divertido, como quando Fábia me perguntava besteiras e eu respondia com ironias.

Sabe, eu tenho uma opinião um tanto quanto pessoal sobre isso, talvez não seja a mesma opinião da maioria – Lancei um olhar para a turma e voltei a falar – Não importa o século, as pessoas sempre tem o costume de julgar as outras, de criticá-las, baseadas nos seus próprios valores, no que elas vivem e acham que sabem sobre a vida. Esquecem de levar em consideração a situação, o contexto da vida no qual o ‘criticado’ está inserido.

Não sou criança, Adam. Entenda isso, eu não sou mais uma criança que fica calada enquanto os adultos decidem o que é melhor para ela.”


Same Mistake - Post III

-E vou passar uma lista...-Continuei a falar com sala, me virando ligeiramente, de forma a conseguir pegar uma folha de papel em branco. E ao realizar esse movimento, não pude deixar de olhar para a porta, parando a meio caminho ao notar quem aparecera por ali. E que agora estava tentando fugir, provavelmente por ter me visto. Não pude evitar que um pequeno sorriso se estampasse em meu rosto, por mais que ela fosse a fonte de minhas atuais perturbações. E a forma como ela estava fugindo de mim, era mais engraçada do que ofensiva. Voltei a endireitar o corpo, ainda que estivesse a olhar para ela, cruzando os braços.

- Evanna! Por que não se junta a nós? - Falei, de forma um pouco séria, tentando não esboçar mais uma vez um sorriso. Ela poderia ter errado de sala ou ter dito que não era o curso que estava fazendo. Na realidade, eu esperava que ela fizesse isso, como uma forma de me evitar definitivamente. Mas ao contrário do que eu havia pensado, ela não o fez. Mesmo parecendo um pouco contrariada, entrou na sala, se encaminhando para uma mesa não muito perto de mim. Evitei esboçar qualquer outra reação, acima de tudo por profissionalismo, mas também para que ela não pensasse realmente que eu fosse começar a criticá-la outra vez. Não que não fosse mais a minha vontade...

Olhei para a sala mais uma vez, tentando não deixar que aquele episódio me afetasse ou me fizesse perder o fio da meada por pensar em assuntos que nada tinham a ver com a aula. Mas eu conseguia me concentrar muito bem em sala, e apesar de saber que não seria a mesma coisa com ela ali, eu conseguiria fazer o meu trabalho.

Me virei mais uma vez para a mesa, pegando a folha que eu pretendia passar antes de ver Evanna. Levei-a até a aluna que estava a minha frente e pedi que a repassasse, para todos poderem assinar, voltando a me encostar na mesa mais uma vez. -Bom, nosso curso será mais dinâmico e já aviso que eu não explicarei com mínimos detalhes todas as fases da Literatura inglesa, pois nosso tempo é muito curto para isso. Mas o principal, será ler as obras indicadas no cronograma que lhes entregarei, para que discutamos a sua influência na época em que foi escrita e como a cultura e as condições daquela tempo a influenciaram.

Dei a volta na mesa, abrindo a minha pasta e retirando as cópias do conteúdo programático, com datas, os livros que deveriam ser lidos para cada semana, e outras indicações. Com os papéis em mãos, me encaminhei para a fileira perto da porta, onde Evanna se encontrava, e olhei para ela por alguns segundos, mas entregando o maço de papéis para a moça que estava a sua frente e pedindo que repassasse.

Voltei para perto de minha mesa, pegando uma cópia do conteúdo e comentando tópico por tópico. Em cada um deles eu pincelava as características do autor e sua época literária, enquanto andava de um lado para o outro. Depois de terminada essa parte, me encaminhei para o quadro, anotando mais alguns detalhes e principalmente a linha cronológica das obras e sua época.

Ao terminar de montar o quadro e explicá-lo, voltei para a frente da mesa, encostando-me nela e cruzando os braços mais uma vez. - Hoje não adiantaria eu começar pela ordem que foi estabelecida no cronograma que eu dei para vocês, pois preciso que leiam o livro.- Observei alguns fazerem caretas presunçosas, como quem dizia que já havia lido todos e que isso não seria um problema. E antes que alguém fizesse uma pergunta desse tipo – sempre existia o ser que fazia perguntas óbvias – continuei: -Aqueles que não leram, é claro...- Completei, lançando um sorriso de compreendimento para os que me haviam feito a pergunta muda.

-Hoje eu gostaria de fazer um introdução a um tema mais geral, pertinente a todas ou pelo menos a maioria de nossas discussões que estão por vir. - Juntei as mãos, voltando a andar pela sala. -Como vocês sabem, nem sempre houve liberdade de expressão... As sociedades eram, e ainda são...- Olhei para Evanna mais uma vez, me voltando para a sala num geral. - ...baseadas em censuras e em conceitos morais. É claro que hoje em dia, temos um poder de expressão muito maior, ainda que não completo. Temos apenas a sensação de que somos totalmente livres.- Parei de andar, voltando a ficar de frente para a turma, encostado na mesa. -E agora, gostaria que cada um de vocês falasse a respeito disso. A respeito do que sentem e do que sabem com relação a esses artistas e suas contribuições. - Apontei para a moça sentada a mesa na frente da de Evanna. - Vamos começar por você. Qual o seu nome?

Ela me respondeu que seu nome era Giovanna. Repeti a pergunta e ela começou a discorrer sobre a sua opinião. Suas ideias ainda eram um pouco confusas, mas no geral, ela tinha uma boa base no assunto. Quando ela terminou, olhei para Evanna rapidamente, girando o corpo e apontando para outra pessoa na sala, de forma aleatória. E assim fiz, com uma boa parte dos alunos, ouvindo discursos calorosos, vendo poses de pessoas que achavam que sabiam tudo, concordando com explicações mais racionais e sucintas. E quando faltavam umas quatro pessoas, apontei para ela.

-E você, Evanna? Qual a sua opinião sobre a censura à liberdade de expressão? Perguntei, fazendo questão de frisar a problemática.



quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Same Mistake - Post II



Volterra pode te ajudar. Novos ares, Evie. Vai te fazer bem.” Você disse Jeff, você disse, mas eu não quis acreditar. Tive tanto receio dessa mudança, receio de me afastar do único lugar que eu ainda considerava um lar, que eu não quis ver. Mas é tão estranho, foi como se tivessem tirado uma venda dos meus olhos e agora tudo está tão claro... e tão... monótono. Eu não consigo mais. Não consigo mais viver assim, tudo parece me sufocar. Essa casa, Max, seus amigos. Pela primeira vez em muito tempo eu quase consigo me ver sozinha. Mas é o quase que me impede, a incerteza do futuro, a insegurança.”

“Eu queria ter forças para simplesmente ir. Me deixar ir. Mas eu não consigo, não consigo me jogar em algo que eu não faço a mínima idéia de como poderá ser. Queria ter a coragem, a força que tantos pedem para mim ter. Talvez eu seja mesmo fraca, mas essa inquietação em mim não me deixa sucumbir a fraqueza. É algo urgente, feroz. Como se houvesse algo para ser feito, descoberto, reconhecido. Como se as respostas estivessem tão perto, que involuntariamente, eu já estou agitada antes de vê-las.”

“E essa agitação me faz querer, quero tanto que, ainda que sutilmente, me imponho.” Fechei os olhos lembrando dos olhos desapontados de Max dias atrás, mas aquilo não parecia me magoar, muito menos me deixar fraquejar. Eu não podia compará-los com o olhar de cólera de Adam, porque ali havia brilho, vivacidade, uma fonte repleta de emoções. Nos de Max havia apenas nebulosidade, faltava vida. Mas ainda assim, ambos os olhares me impulsionaram, fizeram com que eu quisesse mais. E eu quis.

E, quase imperceptivelmente, eu ganhei uma batalha. Não de Max, porque, eu soube, não havia esperança em uma batalha ali, não havia motivo. Ganhei uma batalha de mim mesma, da fraqueza, da mesmice, do quase.”

Parece pouco, mas enquanto eu me preparava para sair e revivia a conversa que tivera com Max sobre esse curso que eu havia decidido fazer, eu entendi que um novo começo havia me sido dado. Eu não via onde ele me levaria, ou se mesmo ele me levaria a algum lugar, mas eu queria acreditar que sim. “E você mesmo já me disse, Jeff: Acreditar é o primeiro passo.” Maximilliam havia concordado prontamente com o curso, gostava do fato de eu me manter ocupada, mas preferia que fosse com um professor particular. Seu tom não foi usado como alguém que estivesse apenas dando uma opinião, pelo contrário, ele preferia que fosse assim, e isso era uma ordem.

Um pequeno sorriso se formou em meu rosto quando senti o mesmo turbilhão de emoções que sentira quando vira a surpresa nos olhos de Adam, que agora eu via nos de Max. “Desculpe, Max. Mas eu prefiro ir até a Universidade. E assim será.” Fora uma pequena batalha, mas eu sentia como se tivesse lutado em uma guerra. Podia sentir o prazer da vitória, o frio na barriga, aquele êxtase de ter conquistado algo.

Respirei fundo, contemplando minha imagem no espelho, meus olhos. Havia ali uma ânsia de viver tão forte, que me fez sorrir. Conferi mais uma vez tudo que eu precisava, pegando minhas coisas e me dirigindo para a porta de saída. Uma careta se formou em meu rosto ao perceber que ou eu chegaria em cima da hora, ou chegaria atrasada. “Olhe pelo lado positivo, Evanna: Pelo menos você não chegará exatamente quinze minutos antes, conforme manda a etiqueta. Tsk, Margareth não aprovaria...”

Foi ainda rindo disso que eu cheguei à Universidade, em cima da hora. Eu havia planejado, dias antes, de chegar mais cedo para poder pegar a matriz curricular e, pelo menos, me informar sobre o professor. Mas agora não dava mais tempo, eu não tinha o controle e isso também me agradava.

Eu já podia ver a porta da sala, que “graças a Deus” estava aberta, “Bater na porta seria demais para mim, eu devo ser realista.” e caminhei mais rápido naquela direção. Parando, estática, quando o vejo dizer “Meu nome é Adam Young. Estarei a frente do Curso de Literatura e Cultura Inglesa durante nossa dez aulas.

Mas que... ótimo!” Fechei meus olhos, involuntariamente, levando a mão a testa tentando me concentrar “Não é como se eu o... detestasse. Mas dez aulas? Dez aulas vendo aqueles olhos me encararem, me perdendo dentro daquele brilho de quem tem todas as respostas? Eu... não posso.”

Dei um passo para trás, tentando não ser notada “Vencer uma batalha de Max ou de mim mesma se torna terrivelmente fácil se comparada com uma batalha contra aqueles olhos.” Me virei vagarosamente, ainda que minha vontade fosse de fugir ali o mais rápido o possível. “Talvez seja uma batalha perdida, no final das contas. Talvez eu realmente seja fraca, ou ainda...” A voz de Adam me despertou, me fazendo virar em sua direção. Eu podia sentir o rosto queimar por ter sido pega no flagra, mas encarei seu olhar e assenti. Entrando de cabeça erguida na sala de aula.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Same Mistake - Post I

Eu folheava uma edição bastante antiga, em espanhol, de Rei Lear, de William Shakespeare, passando os olhos rapidamente por ela. ”El Rey Lear” fora um presente de minha mãe, quando ainda morávamos nos Estados Unidos. Ela adorava me dar clássicos em versão espanhola como“Una manera de mantener siempre vivo la sangre español en sus venas”. Sorri ao lembrar do tom orgulhoso que ela usava ao me dizer isso, enquanto ainda passava as folhas de forma não tão lenta que pudesse ler tudo, mas nem tão rápida que não pudesse observar palavras e anotações soltas, aqui e ali.

Peguei o café que estava em cima da mesa a qual eu estava sentando e tomei um pequeno gole, voltando a folhear o livro um pouco mais devagar, lendo com mais atenção algumas frases que eu havia grifado. Fiquei a fazer isso por alguns minutos, tentando lembrar o que eu havia pensado ao grifá-las, há muito tempo atrás, quando uma delas me chamou a atenção. Não pelo que eu possa ter pensado ao grifá-la antes, mas pelo o que ela me despertara nesse momento:

"LEAR
De nada no sale nada. Habla otra vez."

"De nada sairá nada?" Fechei o livro com o dedo entre as páginas que eu acabara de ler e fiquei a repassar a frase mentalmente, enquanto um turbilhão de outras emoções começaram a surgir. Eu ainda estava perturbado com tudo o que havia acontecido desde que eu conhecera Evanna. Foram poucos encontros, encontros casuais, mas que me deixaram uma marca misteriosa. Eu passara algumas noites sem dormir depois de nossa conversa no jantar, repassando tudo, tentando encontrar sentido em tudo aquilo. E eu não sabia se o que mais me deixava inquieto e irritado era o fato de que eu ainda não descobrira efetivamente o que não me deixava esquecê-la, esquecer todo o seu mundo ou se o fato de que ela parecia não querer lutar contra aquilo.

Não adiantava mais pensar que eu nada tinha a ver com a história. Não fora um obstáculo antes, pensar dessa maneira e agora era como se aquilo fosse apenas uma frase que ficava a piscar na minha mente, mas que não fazia sentido nenhum. Como se eu não tivesse decoro algum com relação a limites. E o fato dela ter me dito para esquecer e não me meter, parecia fazer com que tudo ficasse ainda mais gravado e que a vontade de me meter ainda mais se tornasse maior.

Mas eu tinha a explicação fácil. Era inadmissível assistir alguém não lutar contra sua própria vida, contra uma maneira melhor de se viver. Era demais para minhas crenças ideológicas, minha ideia de felicidade, de livre arbítrio. Só que essa explicação fácil não me convencia e eu estava relutante em aceitar qualquer outra, me deixando cego para ver a verdade.

Eu pensara em ir atrás dela mais vezes, pensara em tentar retomar a conversa, fazê-la ver, cavucar mais as feridas, para fazê-las sarar de uma só vez em seguida. Mas ao mesmo tempo em que o obstáculo de achar que eu nada tinha a ver com isso tivesse se quebrado, eu não tinha a coragem de me impor a sua presença, para lhe criticar mais. A luta interna que se travava entre provocá-la, entre forçá-la a ver a verdade e aceitar o que ela havia me pedido, eram grandes demais.

Sem contar que, além de tudo isso, eu ainda tinha que ver o seu marido todos os dias. Fingir com mais força do que antes que eu não o achava um ser desprezível. Se antes isso já era um esforço sobre-humano, agora eu não saberia explicar o mal que estava me fazendo, ter que agir com tamanha falsidade e frieza. Eu não tinha alternativas, não tinha para onde correr e ainda não tinha a solução, a não ser que eu queria vê-la feliz.

E eu sabia que não conseguiria viver por muito tempo assim. Sabia que em breve eu explodiria, que não daria em boa coisa. Eu tinha que buscar uma alternativa para minha vida, tinha que me retirar daquela história toda. E depois de passar tantos dias pensando nisso, tentando me livrar do peso dessa perturbação, desses problemas, eu decidi que deveria ocupar mais ainda a minha cabeça. Não ter mais tempo ocioso, que me levasse a pensar em Evanna e seus problemas. Nela com ele, em como ele a tratava. Uma forma de cuidar da minha vida. E o que me faltava era lecionar. Essa era uma das coisas que eu mais adorava fazer.

Não foi tão fácil conseguir o emprego na Universidade de Volterra, já que ter sido demitido de uma Universidade como a que eu trabalhara não era visto com bons olhos. Mas meu currículo era bom, apesar de tudo e eu tinha experiência. Mas mesmo assim eu não havia conseguido um cargo de professor efetivo. Começaria somente por cursos de curta duração. O que para mim já era de bom tamanho, pois tudo o que eu precisava era ocupar todas as lacunas que eu tinha no meu dia a dia. Ocupar minha cabeça com outras atividades.

E ali eu estava nesse momento, esperando na sala dos professores, que desse o horário da aula. Era um curso de literatura inglesa, um curso rápido, que envolvia mais a cultura em geral, do que toda a literatura propriamente dita.

Olhei para o relógio, passando a mão nos cabelos e pensando que aquela não era a hora para eu me lembrar daquilo. Coloquei o livro dentro da pasta e tomando mais um gole do café, me levantei, encaminhando-me para a sala de aula.

Pelo que a secretária havia me avisado, haviam poucos alunos, mas eu ainda não tinha a lista com os seus nomes. Cheguei a porta da sala, abrindo-a e me deparando com pelo menos 15 pessoas, em sua maioria mulheres. Haviam apenas dois homens ao fundo. Andei até a mesa, colocando a pasta em cima dela e sentindo uma sensação boa, que parecia estar perdida dentro de mim: a de estar em uma sala de aula.

Parei encostado na parte de frente da mesa, olhando o relógio mais uma vez, voltando-me para a sala em seguida. -Pelo horário, acho que não vem mais ninguém...- Dei um breve sorriso. -Bom, boa tarde a todos. Meu nome é Adam Young. Estarei a frente do Curso de Literatura e Cultura Inglesa durante nossa dez aulas.



sábado, 23 de janeiro de 2010

I Would Like To Understand... - Post XVIII


Deixei meu olhar vagar até que, pela segunda vez naquela noite, encontrasse com o de Max. Eu temia que no fundo eu soubesse a resposta sobre ele tentar ou não, mas eu não queria acreditar nisso. Observei ele se aproximar e eu podia ver claramente a preocupação em seu rosto, o descontentamento por algo não ter saído conforme ele tanto planejara. “E seu casamento, Max? Se acabasse de uma hora para outra, como você reagiria? Faria reuniões de emergência, se trancaria no escritório analisando onde havia errado, melhor: quem havia errado?”

E por fim, chegaria à conclusão de que a culpa era minha por não ter me esforçado o suficiente.” Deixei um suspiro escapar de meus lábios enquanto Max vencia os últimos passos até chegar a mim “Eu sei que a culpa não é minha, Max. Mas também não lhe posso culpar, então: de quem é?” Ouvi-o perguntar de Adam, e olhei mais uma vez para aquelas pessoas vazias – Parece que ele tinha algo importante para fazer. Precisou ir.

As palavras de Adam, dizendo que eu o havia envolvido nisso e ele se importava, mesmo não sabendo o porquê, teimavam em aparecer em minha mente, como se fossem uma música sendo repetida incansáveis vezes, como se, de alguma forma, houvesse algo ali que eu precisava ver. Novamente aquela agitação interior tremeu todo o meu corpo, e eu só conseguia ver aquele olhar de cólera a minha frente. De algum modo, que eu não sabia explicar, eu sabia que ele não tinha sido direcionado à mim, e sim a todo o resto que me circundava.

Eu não conseguia entender por que tudo aquilo importava para ele, sendo que eu pertencia a um mundo que ele, eu notara, odiava. Ainda que eu não quisesse pertencer, não quisesse fazer parte. Ainda assim era o meu mundo, praticamente só o que me restava.

Mesmo que minhas últimas palavras foram ríspidas, mesmo eu não lhe dando o direito de me dizer o que eu deveria fazer, eu sabia que ele estava com a razão. Dentro dos ideais dele tudo isso era patético e deveria ser fácil de resolver, mas para mim não era. “Como eu disse: é fácil ver a nebulosidade e dizer que é preciso apenas uma rajada de vento para deixar as estrelas brilharem de novo. Mas só o vento sabe exatamente a força que precisa fazer para conseguir afastar as nuvens.”

Assenti para Max quando ele mencionou que deveríamos ir para casa. Neste momento era tudo o que eu mais queria, poder estar sozinha em um espaço só meu, olhar para o vazio do meu quarto e ver o quanto ele parecia reconfortante, por simplesmente ser meu e que ninguém tomaria meu espaço se eu não permitisse. “Como deveria ser em todo lugar.”


I Would Like To Understand... Finalizado xD

I Would Like To Understand... - Post XVII

-Não, Brian. Acho que devemos juntar toda a equipe amanhã mesmo, para rever todo o cronograma. Eu não vou dormir enquanto não estiver tudo dentro do relatório. Eu sei que esse custo a mais não é alarmante, mas como eu disse, eu prefiro não ter surpresas.

-Max, você precisa aprender a relaxar de vez em quando. Eu sei que não podemos cometer deslizes e que rever o cronograma será bom, como precaução, mas não precisa se exaltar tanto. Ou você prefere que chamemos a equipe aqui, agora?

Brian ironizou, tentando provocar o sócio. Mas Maximilliam não era conhecido por se deixar levar por uma mera piadinha. -Não seria de todo mal...- Ele respondeu, colocando a mão no queixo como se estivesse considerando. Brian arregalou os olhos, ficando aliviado quando Carlo voltou. Retomaria a discussão para que Maximilliam esquecesse aquilo por um momento.

-E então, quando a secretária dele disse que podemos nos reunir?- Brian perguntou a Carlo, o que fez com que Maximilliam direcionasse sua atenção para este assunto. O que não queria dizer que ele havia se dado por encerrado. Carlo respondeu e os três se sentaram nas poltronas de couro que haviam no escritório para discutir a reunião e os pontos que abordariam nela.

Quando a conversa se deu por encerrada, ficando decidido que eles marcariam uma nova reunião para revisão do cronograma, voltaram para a sala de estar, onde os convidados estavam reunidos, ainda conversando. Maximilliam olhou ao redor a procura de Adam e Evanna e a avistou adentrando a sala sozinha. Foi em seguida ao encontro da esposa.

-Onde está Adam?- Ouviu a resposta da esposa, com apenas parte de sua atenção, ainda pensando em tudo o que teria que fazer quando chegasse em casa e consequentemente pela manhã. Olhou no relógio e se virou para ela mais uma vez.

-Acho que devemos ir, está tarde. Avisou a todos que iriam embora, se despedindo e colocando uma mão nas costas de Evanna, guiou-a para a saída, até o carro, com a cabeça ainda trabalhando e pensando na empresa, 24 horas por dia.



I Would Like To Understand... - Post XVI

Ainda era difícil demais para mim conseguir segurar tudo o que eu realmente queria falar. Nos últimos tempos eu vinha me sentindo privado, e consequentemente entediado, quando não irritado, por não poder me expressar como eu realmente gostava, como eu realmente achava que deveria me expressar. Mas nenhum assunto me deixara a ponto de explodir por não poder falar tudo. Eu achava injusto, eu sabia que não tinha o direito de julgá-la, de dar soluções ou conselhos que ela nem ao menos pedira, mas eu também não estava me sentindo bem por ter que ficar calado ante a isso. Eu não conseguia ver uma vida ser desperdiçada daquele jeito, não poderia deixar alguém perder a vontade de lutar por ela. Meus ideais humanistas estavam a flor da pele agora, mas havia outra sensação que imergia junto a eles, mascarada por minhas tantas dúvidas.

Cogitei ficar calado, sair dali de uma vez por todas, sem ao menos ouvir sua resposta e deixar que ela cuidasse da vida dela. Talvez eu estivesse errado e ela já não se importasse mais em viver daquele jeito. Na verdade eu queria estar errado, queria não ter isso a me perseguir por mais dias e dias. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que por mais que tentasse esquecer e deixar com que ela tentasse sozinha, eu não conseguiria. Já seria difícil trabalhar com Matheson, vê-lo em sua vida supostamente perfeita, planejada, com horários para expressar emoções, com manuais para sua vida cotidiana e muito provavelmente com hora marcada até para dormir com a sua esposa. Eu sabia que isso me irritaria mais ainda, mesmo não tendo nada a ver com aquilo. E o fato de pensar que ela também não ia lutar contra me deixava inquieto. Uma sensação de impotência se apoderaria de mim, por não ter conseguido mudar isso. E antes de mais nada, eu só queria entender...

Fui desperto dos meus devaneios, com a voz ligeiramente alterada de Evanna. Olhei para ela, com uma pontada de surpresa, mas sem conseguir deixar que a indignação abandonasse os meus olhos. Não, ela não queria discutir aquilo comigo e eu sabia que era porque em parte eu havia mexido fundo. As pessoas tinham mania de aconselhar, de dizer de forma doce e ponderada que não era preciso viver assim. Seu terapeuta muito provavelmente dizia coisas vazias, tentando fazer com que ela enxergasse a solução. Eu não era nada delicado – por mais que não tivesse dito tudo do jeito que realmente queria – e não conseguia expor tudo de forma tranquila, sem uma pontada de sarcasmo, sem um julgamento mais direto da situação. E eu sentia, e queria que realmente fosse assim, que ela ficara igualmente indignada com a minha intromissão, simplesmente porque eu tocara na ferida de forma mais brusca.

Continuei a olhá-la, enquanto ela terminava de despejar em cima de mim tudo o que eu talvez merecesse ouvir. Eu, como uma pessoa crítica, por mais que já tivesse cogitado isso, pensaria realmente que ela já estava cansada de ouvir todos ao seu redor lhe dando conselhos. Pensar que talvez ela estivesse passando por isso há algum tempo e que existiam pessoas que também haviam tentado acordá-la era fácil. Mas conseguir refrear qualquer comentário acerca disso, mesmo não sabendo na real medida tudo o que ela estava passando de verdade, era muito, muito difícil.

Eu sabia que estava errado, pelo menos em parte, antes mesmo dela afirmar com todas as letras que eu não tinha o direito de lhe dizer qualquer coisa. Realmente, eu não tinha e repetiria quantas vezes mais fosse preciso, para mim mesmo. ”Eu também não entendo o porque que eu preciso me meter nisso.” E antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa, antes mesmo que eu pudesse me desculpar, ao mesmo tempo em que pensava que não, eu não lhe devia tantas desculpas assim, ela terminou de falar, jogando na minha cara o que eu vinha me dizendo a noite toda. Você não tem nada a ver com isso.

Observei-a sair de perto de mim, em direção as ecadas do terraço. Pousei o copo no parapeito, respirando fundo e passando as mãos pelos cabelos. -Não... Eu não tenho nada a e ver com isso. Só não sei ainda porque eu me importo...

Sem pensar duas vezes, me encaminhei para a escada que tinha na direção contrária em que havíamos subido, desejando que ela desse diretamente para a porta da rua ou para qualquer lugar onde eu não poderia ser mais visto. Já estava farto de todo aquele teatro e sabia que não aguentaria ver Evanna fazendo parte dele mais uma vez. Eu precisava pensar, clarear minhas ideias, me forçar a esquecer tudo isso. Mas sabia que não seria nada fácil.