Por mais que minhas palavras possuíssem um duplo significado, ainda assim eu sentia que não queria ajuda, não daquele jeito. Mesmo que toda minha força parecia se esvair, eu sabia que teria que me encontrar em mim mesma. “Não quero respostas prontas, palavras específicas, um enredo pra seguir. Quero simplesmente descobrir tudo aos poucos, conhecer cada detalhe, encontrar o que tanto procurava por minha própria vontade, em meu próprio tempo.”
“Eu entendia a urgência de Fábia por viver, por arriscar todo o tempo, por que, de certo modo, aquilo era tudo que lhe restava. Não havia um futuro incerto, por mais cruel que possa parecer, mas na verdade: não havia futuro. Para ela só havia presente, e ela agarrava o presente com todas as suas forças, vivendo tudo o que tinha vontade de viver. Muitos dizem que é o melhor jeito de se viver, não pensando no amanhã. Mas será mesmo?”
“Ninguém pode ser totalmente livre. Como poderiam? Viver, viver e apenas viver, sem pensar nas conseqüências que seus atos poderão trazer amanhã? Ser livre é inebriante, mas saber ver e respeitar os limites é o que os tornam realmente merecedores de tal liberdade. Fábia não tinha mais pelo que viver além de si mesma, era lhe permitido ser egoísta, por que a vida também havia sido egoísta com ela.”
Mas eu simplesmente não conseguiria viver de tal modo, talvez por ser fraca, ou simplesmente por não me encaixar em um mundo onde nada é certo. Justamente por meus limites terem sido ultrapassados várias vezes seguidas, por todos eles, os livres, justamente por isso era que eu me apegava mais a eles. Eu me limitava, limitava minhas escolhas, pensando nas conseqüências que elas trariam, não a mim, mas para os outros, para os que estavam envolvidos.
“Fábia costumava revidar que eles, os em que eu tanto pensava antes de tomar uma decisão, jamais fariam o mesmo por mim. “Eles escolherão o melhor para si mesmos, Evie. Quando uma verdadeira oportunidade chegar até eles, ou até você, nenhum pensará duas vezes. Escolherão por si só o que mais lhes convém. Espero que chegue a você primeiro, minha irmã. E que você faça a escolha certa, sem olhar para trás.” Eu rebatia que aquele egoísmo não estava em mim, simplesmente não fazia parte do que eu era, e Fábia completava que não egoísmo, era questão de se conhecer e saber que poderá fazer melhor se estiver bem consigo mesma. “Nenhuma alma triste poderá salvar o mundo, Evie. Quem vive preso dentro de si mesmo não vê o que existe lá fora.”
Eu observava Adam limpar minhas coisas, ignorando totalmente minha resistência a ajuda, e soube que ele faria o mesmo com todo o resto. “A questão é que ele está escolhendo por mim, mas eu não pedi. Ele apenas está fazendo o que lhe convém, sem pensar que essa escolha deveria ser minha.” Eu ia pedir que deixasse minhas coisas ali mais uma vez, mas qualquer menção de falar foi cortada pelo som do meu celular tocando.
Peguei-o vendo que a chamada era do escritório de Max, lancei um olhar para Adam, mas não sai do lugar, atendendo ali mesmo. – Sim. – Sra. Matheson? Aqui é Samantha, a secretária do Sr. Matheson. Ele pediu para avisá-la que não poderá jantar em casa hoje, e que provavelmente chegará tarde. –Tudo bem.. – Ele pediu para perguntar se a senhora ficaria bem, e qualquer coisa a... – Sim. Sim. Diga a ele que ficarei bem. – Fechei o celular, colocando-o dentro da bolsa.
Encarei Adam conforme suas palavras foram ditas e me senti cansada. Eu não queria mais uma batalha, não queria provar quem era o mais forte ou quem tinha razão. “E se eu não ficar bem, Adam, o que lhe importa? Me responda: Por que te importa tanto? Não deve importar, simplesmente não deve. Essa verdade só a mim pertence, esse direito de escolha é meu, e estou cansada de tentar convencer todos disso.” – Respirei fundo, guardando dentro da bolsa as últimas coisas que ainda haviam em cima da mesa. – Você não entende, Adam. E eu estou cansada de tentar explicar.
Eu quase podia sentir as lágrimas surgindo. Não eram de tristeza, eram de cansaço. Eu estava esgotada daquilo tudo, queria apenas poder viver em paz, queria o meu tipo de liberdade, sem críticas ou modos certos de se viver. Pisei fora da sala pensando em como as coisas poderiam ser fáceis, se todos insistiam em torná-las cada vez mais difíceis para mim.
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