
Sustentei o olhar de Margareth até ela desviá-lo, mudando de assunto. Eu não entendia como esse modo de viver poderia agradar tantas pessoas, onde o luxo, a posição social e os contatos valiam mais que qualquer outra coisa. “Esse é o mundo de Max.” Constatei, abaixando os olhos para que encarassem minhas mãos. “Esse é o mundo de Max, no qual eu deveria fazer parte. Mas não é o meu mundo. Não me encaixo aqui, então como poderia dar certo?” Me pergunto “Como poderia dar certo, vivendo os dois em mundo completamente diferente? Porque eu que tenho que aceitar o mundo dele, e não ele o meu?” Minha própria indagação me fez levantar o olhar, como se eu temesse que meus pensamentos pudessem ter sido escutados, que tivessem invadido meu espaço, tomando o pouco que me restava.
Percorri com os olhos todo o salão, percebendo que a maioria dos homens já não se encontravam mais a mesa, entre eles Max, Brian e... Adam. “Adam” eu repeti em pensamento, gostando da forma que soava “Adam Young”. A mente brilhante, que Max tanto falara. “A quem eu havia confessado coisas que antes só Fábia sabia.” Fechei os olhos com a lembrança de Fábia e de todos os segredos que compartilhávamos. “E agora essas palavras que tanto teimam em voltar para mim, me assombrar, agora elas estão mais vivas do que nunca, presentes no brilho do olhar dele. Adam.”
Deixei o ar escapar vagarosamente dos meus pulmões, percebendo que Margareth se dirigia à mim, levantei vagarosamente assentindo ao seu convite e nos encaminhamos para a sala de estar. Meus olhos procuraram pelos de Max automaticamente “esperança e reconhecimento”, encontrando-os com Adam, juntamente com um pedido quase mudo para que eu me aproximasse. Novamente eu podia me senti encolher por dentro, mas respirei fundo, e com um pedido de “com licença” me afastei de Margareth, indo se juntar à Max.
Me aproximei cautelosamente, deixando que Max passasse uma mão pelas minhas costas, deixando-a ali. Seus gestos tão automáticos pareciam tornar toda aquela encenação mais evidente, como se quisesse gritar para todos ouvir, implorar por uma mísera emoção. Enquanto ele nos apresentava e eu podia ver minhas palavras no fundo dos olhos de Adam, como se ele as tivesse gravado e estivesse repetindo-as para si mesmo. Por um instante pensei ter visto mais que brilho e reconhecimento, eu pude ver compreensão.
Eu podia sentir novamente aquele conflito de emoções diante da pergunta de Max, o que me fez desviar o olhar de Adam para Max, para novamente o deixar pousar no de Adam. Eu não havia feito nada de errado, apenas havia conversado com o passageiro ao meu lado durante uma viagem de trem, mas eu não consegui assentir. Uma batalha era travada dentro de mim, como se, durante aqueles segundos em que eu analisava a resposta, cada vez que a verdade me vinha à cabeça algo me impedisse de falar.
Fechei os olhos instintivamente, abrindo-os ao irem de encontro com os do meu marido – Não, Max. Eu acabei de chegar. Como poderia conhecê-lo? – Não desviei o olhar, mas tão pouco consegui sorrir. Apenas assenti ao ver aquele mesmo sorriso de sempre tomar conta de seu rosto, como um professor indiferente ao aprovar a resposta de uma aluna. Encarei minhas mãos, eu sabia que não poderia olhar para dentro dos olhos de Adam agora, sabia que veria neles o reflexo dos meus, e eu me sentia sufocada.
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