
Eu analisava minhas palavras, uma a uma, ditas anteriormente, como se quisesse gravá-las em minha memória. Eu olhava para fora, mas eu não via nada que havia lá. Estava voltada para dentro, vendo minha própria imagem em vários momentos distintos, vendo a alegria se esvaindo cada vez mais. Não havia um momento exato em que se pudesse dar um “pause” e dizer: “foi ali, ali que tudo começou a desmoronar”. Acredito que a infelicidade é quase como um vício, você só se dá conta do que fez consigo mesmo quando não se tem mais volta.
“E sim Jeff, eu não viverei assim para sempre. Talvez me depare com o que tanto busco, encontre a pessoa que tanto necessito dentro de mim. Ou ainda em outra. “A resposta está sempre onde menos procuramos” você me dizia. Procuro, procuro tanto, mas não acho.”
Aquela pergunta, o simples “por quê?” me tomou de tal forma, que novamente me vi perdida dentro daqueles olhos e o que eles queriam de mim. “Por quê, Evanna?” Maximillian me perguntava, indagava, queria sempre saber, sempre ter o controle. “Por quê, Evie?” Jeff queria as respostas, queria entender aquilo que nem eu mesma entendia.
Da mesma forma que eu me lembrava dos tantos “por quês” que já haviam me dirigido, a pergunta do estranho me fez lembrar de Fábia, minha irmã nunca havia me questionado, ela sempre afirmava coisas. Sua vida era repleta delas, das afirmações. E antes de eu perdê-la para sempre ela havia simplesmente me dito “Você não precisa disso, Evie”.
- A solução parece tão simples, não? Por que então você continua vivendo assim, Evanna, por quê? – Meneei a cabeça e voltei a encarar o estranho – Eu me sinto presa em uma pessoa que eu não sou, eu sei que eu não sou, mas eu não sei o que fazer para mudar isso. Eu não sou essa pessoa, eu não quero sê-la, mas também não sei quem sou. As pessoas acham que eu preciso me divorciar. Talvez elas estejam certas. Não discordo, mas não é o meu casamento o problema, não o principal. Eu deveria conseguir fazer dar certo. Aliás, eu consegui, mas quando eu vi, já era tão tarde, os valores já haviam se perdido. E agora? Deixarei meu fracasso para trás porque não sou capaz de me descobrir dentro dele? Não. Antes de eu achar as respostas qualquer atitude tomada será um erro.
Desviei o olhar e deixei um suspiro sair vagarosamente dos meus lábios. Quando Fábia partiu, eu me vi sozinha em um mundo que eu não queria viver. Eu me vi sozinha com um Max totalmente estranho, não havia mais ninguém que sabia quem eu era para me manter alerta. Eu perdi o rumo. Talvez, mas só talvez e em uma pequena parcela, eu poderia dizer que ali foi o começo de tudo. Só que antes eu nunca havia precisado de alguém para me amparar. Então “Por quê, Evanna?” eu me perguntava “Por quê você deixou toda sua força se esvair, porquê?” Tão simples, e tão dolorosa a resposta.
“Porque não havia mais ninguém no mundo pelo qual eu precisava ter forças, ou que precisasse de um sorriso meu ou qualquer sentimento meu. De que valeria, então? Viver apenas para mim, e sorrir e amar apenas por mim, de que valeria?
“E você me dizia, Jeff, sim, você sempre me dizia coisas e eu as tenho guardadas cuidadosamente em mim, que “Vale tanto a pena, Evie, você não acreditaria no quanto vale a pena, pelo mundo, Evie. Somos todos um só, mas somos únicos, você não vê, Evie? Estamos sozinhos dentro de cada um de nós, mas se olharmos para fora, estaremos cercados. Você precisa ver isso Evie. Olhe para fora.” É o que as imagens borradas através da janela parecem querer me dizer, Jeff, parecem gritar que vale pelo mundo todo. Mas eu não vejo. Não consigo ver.”
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