
Por um momento pensei ter visto mais sentido naquelas imagens borradas do que em todo o resto ao meu redor. Ainda que suas formas fossem deformadas pela rapidez que o trem passava por elas, ainda assim, elas pareciam se fundir, se completar. “Você precisa ver isso, Evie. Olhe para fora.”Meneei a cabeça tentando me agarrar naquelas imagens, me fundir a elas, ser parte de algo. Ser parte de alguém.
“Mas o que sou, Jeff, me diga: O que sou? Eu não faço parte dessas imagens, eu não as completo. Você me diz que estamos cercados, mas eu não vejo. Onde estão? Onde estão as pessoas que deveriam me preencher, preencher esse vazio? Porque elas se foram, Jeff, porquê? O que houve para tudo ficar assim? “É só você que tem as respostas, Evie. Cada um trás o que procura dentro de si”, você diz, diz, diz, eu não ouço. Eu não entendo. Procuro, procuro tanto, noite e dia, incansavelmente, eu não encontro.”
“Só vejo passado, só lembranças. Lembranças que teimam em aparecer, como se quisessem dizer que o passado está lá, vivo, tão vivo que se eu fechar os olhos eu posso senti-lo. Mas não posso. Me agarro ao passado, mas eu não o quero. Quero presente, quero futuro. Não vagos. Quero vida. Quero viver, quero estar presente.”
A voz do estranho me trouxe de volta das lembranças dos risos, do amor. Fechei os olhos um instante antes de me virar e encará-lo. “Eu não te compreendo Evie, e eu queria tanto” A frase era quase a mesma, mas dita por uma voz que eu não conhecia, não era Jeff, não era Max. Era um estranho que queria entender. Queria mesmo? Encarei seu olhar e eu soube. Ele queria.
Voltei a fixar meu olhar na janela, enquanto as imagens antes borradas, agora passavam a ter formas, passavam a ser algo. Já não eram apenas uma só, já não se completavam como antes, mas ainda assim pareciam estar unidas. Pareciam saber que dependendo da forma que eram olhadas, dependendo do ângulo, elas se fundiam. “Talvez eu esteja olhando pelo ângulo errado, Jeff.”
Contemplei a multidão que se encontrava na estação, vi a esperança, o reconhecimento e o brilho nos olhos daqueles que encontravam quem procuravam, “Estamos sozinhos dentro de cada um de nós, mas se olharmos para fora, estaremos cercados” As palavras de Jeff voltaram para mim, como se anunciassem um presságio. Respirei fundo e segui para a porta de saída do trem, que já se encontrava praticamente vazio.
Meu olhar vagou esperançoso por entre a multidão, para finamente assentir em reconhecimento. Caminhei de encontro à Max, perguntando a mim mesma onde fora que o brilho se perdera.
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